Após a apresentação de cinco perícias com valores
milionários nas últimas décadas, e muitas decisões do Judiciário contestadas e
anuladas, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios fixou a
indenização em R$ 60 mil, com base no valor estimado do terreno em 1957. Desse
dinheiro, ainda serão descontados R$ 55 mil referentes a 50% do gasto com a
última perícia.
O valor destoa das avaliações apresentadas pelo próprio
governo do Distrito Federal e pelo Ministério Público há 20 anos (R$ 3,8
milhões e R$ 11 milhões, respectivamente).
“Querem pagar um valor absurdo. Não tem nada a ver com
o que foi cogitado nesses anos. É como se você entrasse em um processo para
receber uma indenização e saísse devendo”, afirma Rachel.
O escritório que acompanha a execução da sentença estima que
o terreno de 12 mil metros quadrados próximo à região central vale pelo menos
R$ 30 milhões atualmente. Por isso, recorreu em 2016 ao STJ (Superior Tribunal
de Justiça), onde o processo aguarda uma decisão.
“A lei sempre determinou avaliação contemporânea ao
laudo, porque você tem de indenizar na data em que paga e não indenizar com o
preço lá de trás. Nunca poderia ser menos do que o terreno vale hoje”,
afirma o advogado Eduardo Gouvêa, 55, que começou a atuar no caso quando tinha
cerca de 25 anos.
“Vão pagar quase nada pela propriedade e amanhã botam
no leilão da Terracap [empresa pública do DF responsável pela indenização] e
vendem por R$ 30 milhões. Se isso não é enriquecimento ilícito, não sei o que é
que é.”
Além de cuidar da casa e dos dois filhos, Rachel trabalha
fazendo marmitas e doces que vende na clínica em que o filho mais novo faz
terapia, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. Quando criança,
trabalhou como catadora de café no interior de Minas.
Diz que atualmente a família não passa fome, mas que o
dinheiro é a esperança de garantir o futuro dos filhos, que precisam de
tratamento médico e acompanhamento especial na escola, do primo mais novo. O
irmão também conta com os recursos para voltar a viver no Brasil junto à
família.
“O principal objetivo é esse: poder equilibrar a vida
para viver com tranquilidade e dignidade. Não consigo nem pensar no que eu
faria. Eu teria de me adaptar a não viver no aperto.”
Raquel afirma ter esperança, mas ao mesmo tempo dúvida se
conseguirá receber algum valor. “Eu estava levando minha filha para a
escola e falando com ela: a gente é milionário pobre. A gente tem direito a
receber um dinheiro que nunca saiu e eu nem tenho expectativa de que saia nada.
Mas vamos ver se sai alguma coisa boa disso. Tem de sair.”
A construção de Brasília se deu a partir da desapropriação
de fazendas que ocupavam à época o Planalto Central, segundo informações da
Terracap. Mas a precariedade dos registros da época dificultou o processo.
Atualmente, dos 5.800 km² que compõem todo o DF, quase 10%
são terras que foram desapropriadas parcialmente e nas quais não há definição
precisa de quais parcelas são públicas ou particulares. A empresa tem buscado
nos últimos anos esses proprietários para a realização de acordo de demarcação
e divisão amigável dessas terras.